Desbravar o mercado de trabalho pode ser desafiador. Por isso, aqueles que optam pelas áreas da Engenharia, da Agronomia e das Geociências encontram apoio em um ecossistema formado por diferentes frentes de defesa e promoção da ética, do compromisso com a sociedade e do desenvolvimento tecnológico.
Em uma ponta está o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), órgão fiscalizador do exercício profissional de engenheiros, agrônomos e geocientistas. Em paralelo, na outra ponta, estão as entidades de classe, como são conhecidas as agremiações civis sem fins lucrativos que atuam na representação desses grupos.
Essas associações estendem a finalidade do Crea-SP com outra missão ainda mais ampla, a de promover o aprimoramento técnico profissional e a valorização da classe por meio da formalização de parcerias que viabilizem essas ações. O elo entre as instituições é o profissional, que transita por todos os ambientes ligando-os à população.
“A valorização do profissional é o resultado de três importantes iniciativas: capacitação, divulgação da legislação profissional e associativismo, que são os maiores objetivos das entidades”, explica o assessor da Presidência do Crea-SP, Daniel Montagnoli Robles.
Capacitação
São cursos, palestras, workshops e outras ações de imersão em temáticas da área tecnológica, como big data, inteligência artificial, cidades inteligentes, entre outros assuntos que incentivam e promovem o aprimoramento técnico profissional e o progresso por meio da produção de estudos, pesquisas e conhecimentos tecnocientíficos construídos e compartilhados dentro das associações, com a participação efetiva do Crea-SP.
Em Monte Alto, por exemplo, tivemos em abril de 2022 o “1º Forum de Soluções e Inovações Inteligentes no Brasil. O evento foi realizado no Centro de Treinamento do CREA-SP e contou com a iniciativa e a participação da Prefeitura Municipal, além de outras entidades e associações parceiras.
Nesse evento foram abordados assuntos fundamentais para o desenvolvimento sustentável, como “soluções para evitar o desperdício de alimentos”, além de projetos de eficiência energética, de automação de água potável e aplicativos de automação em serviços públicos, como os conhecidos chatbots”.
O conceito de cidades inteligentes, ou smart cities, também foi um dos principais tópicos do encontro. Segundo a união Européia, Smart Cities são sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida. Esses fluxos de interação são considerados inteligentes por fazer uso estratégico de infraestrutura e serviços e de informação e comunicação com planejamento e gestão urbana para dar resposta às necessidades sociais e econômicas da sociedade.
De acordo com o Cities in Motion Index, do IESE Business School na Espanha, 10 dimensões indicam o nível de inteligência de uma cidade: governança, administração pública, planejamento urbano, tecnologia, o meio-ambiente, conexões internacionais, coesão social, capital humano e a economia.
Apesar de ser um conceito relativamente recente, o conceito de Smart City já se consolidou como assunto fundamental na discussão global sobre o desenvolvimento sustentável e movimenta um mercado global de soluções tecnológicas, que é estimado a chegar em US$ 408 bilhões até 2020. Atualmente, cidades de países emergentes estão investindo bilhões de dólares em produtos e serviços inteligentes para sustentar o crescimento econômico e as demandas materiais da nova classe média.
Ao mesmo tempo, países desenvolvidos precisam aprimorar a infraestrutura urbana existente para permanecer competitivos. Na busca por soluções para esse desafio, mais da metade das cidades europeias acima de 100.000 habitantes já possuem ou estão implementando iniciativas para se tornarem de fato Smart Cities.
E, se formos pensar em cidades inteligentes, vamos precisar de um grande número de profissionais das engenharias para desenvolver esses projetos. Daí, temos que passar pelo processo de aprimoramento técnico.
Esse aprimoramento técnico parte da proposta do Conselho Regional, uma vez que sua atuação direcionada à fiscalização profissional possui caráter educativo e orientativo. “Se há um responsável técnico em atuação, há mais uma cadeira ocupada por um profissional devidamente habilitado, atualizado e preparado para executar tal atividade”, esclarece o coordenador do Colégio de Entidades de São Paulo (CDER-SP), fórum consultivo do Crea-SP, e presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Osasco (AEAO), Eng. Civ. Leandro Azeredo Fogaça.
Isso quer dizer que, tendo em vista que a habilitação, a capacitação e o aprimoramento técnico do profissional refletem diretamente na entrega de serviços, o benefício da qualificação não atende apenas às necessidades do mercado e de quem atua nele, mas resulta em mais segurança, eficácia e qualidade para a população.
Tal iniciativa é vista no Crea-SP Capacita programa de atualização e formação para profissionais registrados, colaboradores, estudantes e outros interessados.
Para o coordenador da Comissão Permanente de Orçamento e Tomada de Contas (COTC) do Conselho e presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba (AEAP), Eng. Civ. Luis Chorilli Neto, o aprimoramento precisa ser contínuo. “O profissional menos capacitado terá, a cada dia, mais dificuldade em atuar. As atividades de aperfeiçoamento devem ser encaradas como requisito técnico para que sejam sempre aproveitadas”, comenta.
As próprias associações mantêm uma relação de parceria com o Crea-SP e as instituições de ensino para a promoção dos mais diversos formatos de qualificação profissional, facilitando o acesso àqueles que pretendem manter-se atualizados.
Na Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Monte Alto-AEAA-MA, os cursos e palestras são constantes, dentro desses objetivos de capacitar os profissionais para, cada vez mais, cumprirem suas atribuições na sociedade.
Somente em 2022, foram cinco eventos com conteúdo de formação e informação dos profissionais. O engenheiro agrônomo e de segurança no trabalho, Ernani Lazarini, fez uma dessas palestras, falando de Agricultura 4.0.
“Com os sistemas adequados (softwares, sistemas e equipamentos), é possível gerar e analisar um volume massivo de dados, facilitando sua rotina e permitindo uma produção em larga escala, com qualidade”, diz o engenheiro. “Dessa forma, com a incorporação dos meios digitais no dia a dia, o formato de produção se torna consideravelmente mais inteligente”, complementa.
Segundo ele, quando falamos sobre as tecnologias na agricultura, podemos citar alguns sistemas que auxiliam a visualizar e gerenciar os processos de maneira mais ampla e analítica, como: internet das coisas, inteligência artificial, big data, entre outros.
Através da agricultura 4.0 é possível que os pequenos, médios e grandes produtores agrícolas possam colocar em prática a metodologia de agricultura de precisão, por exemplo.
Esse é um conceito de gestão de operações agrícolas que se guia a partir de dados precisos sobre toda área produtiva, sem entendê-la como uma área uniforme, mas sim considerando todas suas particularidades e fatores que interferem na produção, como solo, infestação de ervas daninhas, doenças e pragas etc.
No mundo, o início do desenvolvimento da agricultura está diretamente relacionado à expansão marítima-colonial europeia.
No Brasil, entre os anos 1950 e 1960, a agricultura ainda era bastante rudimentar. O trabalho braçal predominava na produção agropecuária. Somente 2% das propriedades rurais contavam com o apoio de máquinas agrícolas para otimizar a produção.
A soja, que hoje é o principal cultivo agrícola no país, ainda era algo pouco conhecido pelos produtores brasileiros, sem qualquer expressão tanto para o mercado doméstico e sem perspectiva de se tornar um grande exportador.
Ao longo da história no mundo, a evolução da agricultura passou por várias revoluções agrícolas, mas a principal se deu a partir da Revolução Industrial, com o processo de industrialização das sociedades e a descoberta de novas técnicas e maquinários.
Além das máquinas, a descoberta de fertilizantes e maior conhecimento sobre solo e condições climáticas também é um fator fundamental para a evolução da agricultura.
E a partir disso, foram décadas e décadas de evolução das tecnologias que fez o homem produzir não só para consumo próprio, mas escalonando a agricultura para venda local até a exportação.
Em relação ao aumento expressivo de produtividade agrícola no Brasil, os indicadores mostram que as décadas de maior desenvolvimento ocorreram entre 1975 e 2017.
Durante esses anos, a produção de grãos no país, que era de 38 milhões de toneladas, passou a ser seis vezes maior, atingindo 236 milhões de toneladas de grãos, como mostram os estudos da Embrapa.
“Estamos no limiar de uma nova era nas ciências agronômicas”, diz o engenheiro. “Agora temos a agricultura de precisão, com máquinas agrícolas altamente tecnológicas, temos drones, georeferenciamento de áreas por satélite. Tudo isso leva a uma necessidade de capacitação cada vez mais presente, que não pode ser ignorada pelos profissionais”, completa.
Mas a parceria vai além
Os outros dois propósitos da parceria formalizada entre o Conselho e as associações são divulgar informações sobre as leis e normas que regem as profissões abrangidas pelo Sistema Confea/Crea, que precisam ser regularmente atualizadas diante das necessidades de mercado, e estimular a integração entre os profissionais, caracterizando o aspecto social das entidades.
“Com isso, as associações também podem falar para a sociedade e educá-la sobre a importância de buscar um profissional devidamente formado e regulamentado para as atividades técnicas de construção civil, segurança do trabalho, engenharia de alimentos, agronomia etc.”, argumenta Robles.
O engenheiro civil, por exemplo, é um profissional importante quando o assunto é infraestrutura. Sendo ele o principal tipo de profissional habilitado para lidar com projetos e construções de edifícios, túneis, metrôs, portos, barragens, estádios, aeroportos e até mesmo propor novas soluções tecnológicas para o melhor bem-estar da sociedade. Cabe ao engenheiro a escolha de terrenos, condições, materiais e profissionais adequados a um empreendimento, sempre buscando otimizar custos e causar os mínimos impactos ambientas, assim como o melhor custo/benefício.
Já a importância do Engenheiro da Computação está no fato de que, devido à constante modernização e ao avanço da tecnologia no mundo, dificilmente se encontra alguma empresa ou indústria que não faça uso de sistemas informatizados, dispositivos digitais e eletrônicos que facilitem o andamento de suas atividades.
Com isso se espera que este profissional saiba atuar e promover o avanço tecnológico desenvolvendo novas ferramentas visando facilitar cada vez mais o rendimento organizacional. Para isto estará sempre projetando e construindo computadores, assim como sistemas que integram hardware e software facilitando também o trabalho profissional de outras áreas.
Alguns dos princípios norteadores do Engenheiro de Produção são: garantir a qualidade de vida da população, defender o ecossistema e desenvolvendo produtos que atendam às necessidades da população. Assim como: ser inovador, criativo, para descobrir formas para fabricação de produtos que ainda não existam no mercado, ter um amplo conhecimento em administração de empresas e recursos humanos para aumentar a capacidade e qualidade de produção.
Por meio de conhecimentos diversos como administração, economia e engenharia, esses profissionais aperfeiçoam técnicas e táticas de produção assim como organizam atividades financeiras, logísticas e comerciais de uma empresa. O Engenheiro de Produção deve ter conhecimentos diversificados para, por exemplo, saber decretar a melhor estratégia para obtenção de mão de obra, equipamentos e matéria prima, reduzir os custos e aumentar a produtividade da organização.
Vamos adiante. Com o avanço tecnológico e a grande demanda reprimida de novos sistemas automatizados, foi desenvolvida a Engenharia Mecatrônica com a finalidade de criar processos mais homogêneos, aumentar a segurança do patrimônio e dos funcionários, diminuir postos de trabalho visando uma diminuição do custo fixo, além de poder reduzir o quadro geral de engenheiros específicos de cada área substituindo-os por um engenheiro mecatrônico.
Apesar de teoricamente o engenheiro mecatrônico estar apto a substituir os engenheiros mecânicos, elétricos e de computação, para encontrar um profissional recém-formado que seja apto a exercer a função que antes correspondia a três diferentes cargos não é fácil, pois a graduação faz parte apenas da primeira etapa da formação de um engenheiro com este perfil.
Por estar intimamente ligada a tecnologia, a Engenharia Elétrica é de suma importância para o mundo moderno, onde é responsável desde o mais simples circuito eletrônico encontrado nas mais variadas tecnologias até os campos de geração, transmissão e distribuição de energia.
Foco local
Diferentemente do Conselho Regional, com jurisdição em todo o Estado, as associações têm foco nos municípios ou, por vezes, em regiões, quando agregadas umas às outras em uniões. Isso possibilita a representação assertiva da classe, uma vez que as necessidades locais e regionais são mais facilmente identificadas, podendo ser somadas às demandas apuradas pelos inspetores, representantes da Presidência do Crea-SP.
Monte Alto, por exemplo, é uma associação atuante em sua região. Desenvolve inúmeros projetos de capacitação, acolhe eventos de tecnologia e desenvolvimento econômico e ainda realiza projetos sociais, contribuindo com entidades beneficentes.
Na área da engenharia civil, a AEAA-MA participou de dois projetos de fundamental importância para o município.
O primeiro deles foi o planejamento, estudo e criação do projeto da Concha Acústica, no Centro Cívico e Cultural da cidade. “Nossos engenheiros foram lembrados pela administração pública e, cientes de sua missão de desenvolvimento local, fizeram um projeto que entrou para a história da cidade”, conta Francisco Innocencio Pereira, presidente da AEAA-MA.
Em termos de estilo arquitetônico, o projeto possui uma estrutura assimétrica, cuja cobertura abriga cerca de 120 m² de área útil, distribuídos entre o palco, reserva técnica, espaço para mesa de som e rampa de acessibilidade. No seu interior foi criada uma moldura de gesso reforçado em curva, para melhorar a acústica e criar uma superfície mais fluida, acompanhando as linhas curvas da estrutura e dos muros de contenção. A iluminação será em lâmpadas de LED.
A Concha vai auxiliar, e muito, quando todas as funções sociais e educacionais voltarem ao normal, em nossa sociedade. Ela servirá principalmente aos alunos do Conservatório, para inúmeras apresentações de alunos e professores, além de receber outros shows/espetáculos culturais que costumeiramente trazemos para o município.
“Importante lembrar que o trabalho da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Monte Alto se concentrou também na acessibilidade da obra”, lembra o presidente Francisco. Agora, todo o Centro Cívico já está preparado na questão da acessibilidade, pronto para receber eventos.
Além disso, a participação da associação também se estendeu à revitalização da Praça São Benedito e à construção do pavilhão de economia criativa naquele local. “Hoje temos um espaço fundamental para o desenvolvimento da agricultura familiar, com o fortalecimento das feiras livres”, explica o presidente Francisco. “Saber que essas ideias foram gestadas por nossos associados, em parceria com as equipes da Prefeitura Municipal, nos enche de orgulho e de uma motivação extra para continuarmos trabalhando nesse sentido.
“Hoje, tanto a concha acústica quanto a Praça do São Benedito (que ainda não está finalizada) são patrimônios de Monte Alto que tem a marca e o selo das engenharias, assim como da nossa Associação e também do CREA-SP”, acrescenta Francisco.
E o trabalho dos profissionais não para por aí. Novos projetos vem sendo preparados pela diretoria da Associação, que olha para o futuro de forma ousada e afirmativa.
Estudos vem sendo realizados para incentivar os novos profissionais, que a cada ano chegam ao mercado muitas vezes sem perspectivas de atuar na área. Além disso, a criação de espaços onde novas empresas tecnológicas possam ser criadas e desenvolvidas é outra ideia que vem sendo trabalhada no cotidiano da AEAA-MA.
“Em breve teremos novidades positivas para os nossos associados, para Monte Alto e para toda a região”, finaliza o presidente Francisco.